sábado, 27 de fevereiro de 2010

COMO CONSTRUIR UMA COREOGRAFIA...

Um dos exercícios mais importantes no aprendizado da dança do ventre é a construção de uma coreografia própria. Ao procurar encaixar os passos e movimentos aprendidos em uma música, não apenas se exercita a técnica; aprende-se a ouvir a música coreograficamente. Ou seja, ouvir pensando no corpo e na linguagem de dança aprendida.

Para apoiar minhas alunas na tarefa de construção coreográfica, reuni aqui algumas dicas que, espero, também podem ajudar outras colegas. Essa, no entanto, é a minha maneira de criar coreografia; há vários outros modos.



I - Defina qual música você vai coreografar



1. Se é sua primeira experiência em coreografia, opte por uma música simples. Deixe as mais elaboradas para um segundo momento. É sempre mais interessante começar pelo mais fácil, para evitar frustrações. Defino como simples as músicas com o padrão estrofe 1, refrão, estrofe 2, estrofe 3, refrão. Música pop, "moderna" costuma ser assim;

2. Do mesmo modo, escolha uma música curta. As muito longas dão mais trabalho, exigem mais imaginação para evitar repetições. Chamo de curta a música com duração inferior a sete minutos.

3. Coreografe uma música de que você goste muito. A vontade de dançar ajuda bastante no trabalho criativo.

4. Ouça muitas vezes a música. Procure ouvir com fone de ouvido, para captar sutilezas. Ouça concentrada, prestando atenção. É muito diferente de quando ouvimos uma música enquanto dirigimos, por exemplo.



II - Comece a definir a coreografia



5. Procure ouvir a música novamente, imaginando uma bailarina dançando. Gosto de visualizar uma bailarina imaginária. Geralmente, se me coloco no lugar dessa bailarina, minha imaginação dá uma travadinha nos meus pontos fracos. Deixe-se imaginar algo realmente maravilhoso, ainda que você duvide que consiga executar os movimentos. Se fizer bastante esse exercício verá que a prática melhora bastante. Para mim, pelo menos, funciona.



6. Dê uma dançadinha, cheque se o imaginado se adapta de fato à música, ou seja, se é viável fazer o que se imaginou. Provavelmente vai precisar fazer alguns acertos pequenos, principalmente no tocante à finalização e emenda dos passos. Se você quer muito, muito, muito colocar um passinho que ainda não está saindo legal, aproveite para estudá-lo. Se ele está bem guardado na memória, certamente não custará a passar para o corpo.



III - Defina os movimentos a serem utilizados



7. Observe os pontos altos, explosões e momentos menos excitantes da música. Toda música tem as partes bem marcadas, fáceis, e uma parte que convida à "embromation". Fique tranqüila e identifique os momentos fáceis e os momentos que vão exigir mais de você.



8. Identifique os momentos da música. Na música clássica funciona mais ou menos assim: introdução (não dançada), entrada, tema principal, taksim, desenvolvimento, retorno ao tema principal, finalização. Na música moderna, é tudo mais simples: entrada, primeira estrofe, segunda estrofe, refrão, segunda estrofe, variação simples da primeira, refrão, fim.



9. Lembre-se que as entradas e as saídas são muito importantes. São a primeira e a última impressão de sua dança. Escolha uma entrada com menos agitação de quadris, desfile, mostre sua roupa, seus lindos cabelos e, principalmente, seus dentes. Não corra demais, seja calma, não fique suando loucamente. Você terá tempo para mostrar técnica ao longo da música. Na saída, energia nunca é demais. Pode botar pra quebrar.



10. Evite repetições em um mesmo trecho da música. Dezesseis tempos de básico egípcio fica entediante. Lembre das variações sobre o mesmo passo, se o desespero apertar. Não há problema algum, no entanto, em repetir passos dentro da coreografia. Devem, no entanto, ter ênfases diferentes, porque a música está variando o tempo todo, pedindo para que você dê ao movimento a energia dada às frases musicais.



11. Enriqueça a coreografia explorando bem o espaço. Pontue frente, fundo, direita, esquerda, diagonais. Alternar movimentos altos e baixos também é importante para quebrar a monotonia. Se você já esteve há um tempo "no alto", opte por fechar com um movimento "baixo" - em uma seqüência de básico egípcio e deslocamento com camelo, por exemplo, conclua com um redondo grande.



12. Alterne seqüências estanques com seqüências dinâmicas. Ou seja, não fique apenas parada nem só deslocando. É também importante discernir os momentos em que é melhor ficar parada e os momentos em que a música pede um deslocamento. Geralmente, taksim pede para ficarmos mais quietas, mais introspectivas; quando a orquestra inteira está envolvida, geralmente chama a bailarina para um deslocamento. Assista a vídeos de boas bailarinas observando suas escolhas de movimento .



IV - Anote a coreografia



13. Crie um código para os movimentos usados na dança. Isso vai ajudar na anotação da coreografia. Como sabemos, na dança do ventre não há normatização dos passos, como ocorre com o ballet. O resultado disso é que muita gente dá nomes aleatórios para os passos e ninguém entende ninguém. Há o "patinho", o "ovinho", o "soldadinho", o "sapinho"... E há também nomes que muita gente compartilha, como oitos, redondos, básico egípcio, camelo... Ou seja, não se preocupe com nomes. Se preferir, reúna amigas e procure combinar um padrão entre vocês. Deixe a imaginação fluir.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito boas as suas considerações. Estou querendo criar uma coreografia para o meu primeiro solo com música cigana. Espero conseguir com as suas dicas. Obrigada